Produtores, varejo e indústria se reúnem para discutir propostas de monitoramento

30.07.2020

 

As soluções para os problemas ambientais da cadeia da pecuária podem surgir de um lugar pouco esperado: dos próprios produtores.

E justamente para avançar na construção de uma agenda positiva que estiveram reunidos nesta quarta-feira (25), no Golden Ville Hotel, em Marabá (PA) pecuaristas, produtores rurais, representantes do varejo, indústrias e organizações ambientais.

O encontro já é o quarto do denominado Grupo de Trabalho de Fornecedores Indiretos (GTFI) que segundo definição de Pedro Burnier, gerente de projetos de cadeias produtivas da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, busca implementar soluções que sejam viáveis para o monitoramento da carne. O desafio maior é buscar visões de consenso entre todos os setores.

Pedro Burnier e Mauro Armelin da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira

Mauro Armelin, diretor executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira afirma que o encontro reúne os agentes responsáveis pelo setor produtivo justamente para fugir do discurso mais fácil de apontar culpados e soluções milagrosas pouco eficazes. “Não existe um culpado e não existe uma bala de prata. O que nós temos que fazer é trabalhar o criador (de gado), o frigorífico, o varejista e a indústria, todos juntos falando e rumando ao mesmo lugar, que é o desmatamento zero”.

A pecuária ocupa 80% das áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia, além de responder pela maior parte dos casos de trabalhos análogos ao de escravidão no país. E ainda que mais de 340 frigoríficos tenham assinado TAC da Carne, termo que estabelece uma série de critérios ambientais para a compra do gado, as denuncias não cessaram.

Operações como Carne Fria e Carne Fraca, da Polícia Federal e Ibama, respectivamente, apontaram que gados de áreas embargadas ainda estavam chegando aos consumidores finais, sendo repassados para fazendas regularizadas. Ainda não existe um consenso de ferramenta que garanta o monitoramento completo da cadeia da pecuária e o produtor rural, até pouco tempo, realizava apenas o controle do gado da própria fazenda deixando no escuro a origem.

Por isso, segundo Mauro Armelin é fundamental o controle do “fornecedor do fornecedor”, como chamou para ilustrar a presença dos produtores que fazem a cria, recria e engorda e vendem para as fazendas de engorda – os chamados indiretos, que só então vendem aos frigoríficos. “Chegou o momento de enfrentarmos o desafio e fazer o monitoramento completo da cadeia da pecuária, pra chegar até o bife vendido pelos mercados”, afirma.

Readequação do produtor

 

Material de Comunicação usado por redes varejistas para alertar os consumidores da origem da carne

Se ainda não existe um consenso de qual a melhor ferramenta ou mesmo de regras que devem ser seguidas para todo o maior prejudicado é o pecuarista e principalmente o pequeno produtor, já que possui mais dúvidas do que soluções para seus negócios.

Jordan Timo conhece bem o desafio. Além de representar a Apoio Consultoria, também presta serviços na área de regularização ambiental e monitoramento socioambiental, no Pará. Para ele, além dos desafios de monitorar os produtores, atualmente, a recolação dos produtores tem sido o maior desafio. “A readequação de fornecedores é o que mais empata a cadeia de pecuária no bioma Amazônia, principalmente por falta de estruturas dos órgãos ambientais e falta de condição do produtor para conseguir se regularizar e atender o que o mercado está querendo como carne legal e carne sustentável”, afirma.

 

Virgílio Paculdino, Diretor Safetrace, representando o Grupo Pão de Açúcar durante evento

Essa necessidade não passou despercebida pelas grandes redes de varejo que passaram a incluir políticas de readequação e monitoramento para que o produtor não seja excluído, sem antes a oportunidade de regularizar. “A nossa discussão é como usar os bancos de dados, os dados, as ferramentas com inteligência e responsabilidade”, afirma Virgílio Paculdino, Diretor Safetrace que esteve representando o Grupo Pão de Açúcar durante o evento.

Virgílio afirma que o Grupo atua para participar da solução dos problemas e não simplesmente transferir o problema. “A ideia não é excluir. É trazer esse produtor que está fora da adequação de novo pra cadeia [produtiva]”. Ele ressalta, no entanto, que quando os acordos de melhorias e readequação não são descumpridos pode haver exclusão definitiva.

Outra rede varejista de peso que também se comprometeu, desde 2010, a ter uma cadeia de alimentos sem desmatamento ilegal da Amazônia foi Walmart. O compromisso assumido pela rede é valido para todas as lojas nos 27 países. E para que isso ocorra, um dos princípios da rede é ajudar a desenvolver a cadeia e participar de grupos de engajamento, como a iniciativa do GTFI, por exemplo.

Exemplos práticos

Mas na prática: produzir sem desmatar é possível? Para Mauro Lúcio, pecuarista da fazenda Marupiara, no Pará, não só é possível como lucrativo. Em sua fazenda ele utiliza as ferramentas de monitoramento dos animais para melhorar a gestão da sua fazenda. Com a possibilidade de acompanhar o crescimento, ganho de peso e desenvolvimento de cada animal, Mauro Lúcio afirma que consegue ampliar seus ganhos identificando os animais mais lucrativos.